A natureza é muito maravilhosa e sempre me ensina muito sobre a vida. Um dia numa cachoeira vi um monte de pedras empilhadas e fiquei admirando a beleza delas. Fiquei curiosa e fui pesquisar sobre isso.
Descobri que existem algumas explicações e nomenclaturas, mas hoje vou refletir sobre a Apacheta. Os indígenas dos Andes as construíam por dois motivos: para marcar e sinalizar o caminho no deserto, além de serem altares sagrados em honra aos deuses incas.
Portanto, além de marcar geograficamente o caminho, a apacheta possuía um significado simbólico: uma orientação espiritual, um local sagrado para pedir boa sorte no caminho, proteção e uma boa colheita e agradecendo principalmente à Pachamama (mãe terra) e aos Apus (deuses das montanhas) pelos seus cuidados, pela saúde, pela chuva, pelo sol, enfim, pelas riquezas da natureza.

Durante as férias tentei pela primeira vez empilhar pedras. Antes eu diria que eu não tinha paciência para isso, mas dessa vez me conectei com a natureza e em forma de agradecimento à Pachamama me comprometi a fazer, mesmo que fosse desafiador para mim. Quantas me privei de realizar ações em função dos meus julgamentos, agora com mais lucidez e mais comprometimento, tenho me esforçado para ter mais abertura e coragem às experiências que julgo importantes na minha vida.
Então, me permiti experimentar essa experiência, com uma postura mindful de abertura, curiosidade sem julgamentos. E, para minha surpresa, nesse processo de empilhar pedras, pude experimentar um estado de Flow! Focada na tarefa de equilibrar/empilhar pedras vivi uma desconexão com o ego para uma conexão com o todo, uma experiência de muita presença e total transcendência. Ao silenciar a mente e entregar minha presença profundamente conectada naquele momento, acessei um estado de sensibilidade, notando que tudo estava interligado, não havia dentro ou fora – a natureza e eu éramos um todo único. Que momento mágico…

Além dessa experiência positiva de alto engajamento, me gerou uma reflexão e analogia do empilhamento das pedras com as experiências da nossa vida. Existe um significado muito profundo em empilhar pedras: elas caem. Elas caem e caem de novo e precisamos encontrar as pedras com o formato correto para empilhar uma em cima da outra para que permaneçam empilhadas. Se as pedras não estiverem alinhadas e muito bem equilibradas, tudo desmorona. Encontrar o equilíbrio não é uma tarefa fácil, não é mesmo?
Portanto, é, também, um valioso exercício de desprendimento e lucidez sobre a impermanência de tudo o que existe e a transitoriedade dos ciclos da natureza. Construímos a Apacheta por meio de escolhas das pedras com o objetivo que elas fiquem lá empilhadas e imóveis, mas a qualquer momento, ela pode desmoronar nos levando a trabalhar o desapego e realocar nossa energia para realizarmos novas escolhas na construção de uma nova pilha.
E assim é a nossa vida… Gastamos tempo e energia na escolha das pedras mais “perfeitas” para empilhar durante nossas experiências e vira e mexe uma delas rola, despenca, e tudo parece desmoronar. Muitas vezes ficamos apegados às pilhas, e quanto mais apegados ficarmos, mais sofreremos com a queda delas. Desapegar, abrir mão do controle, ter resiliência para nos adaptarmos às adversidades da vida é possível.

Acho que ajuda nesse processo lembrarmos que as pedras desmoronam, mas continuam ali! Algumas vezes elas rolam perto, outras elas rolam para bem longe exigindo mais esforço de nós para buscá-las. Mas, elas continuam ali. Se olharmos para a experiência com um olhar de aprendizagem, refletindo sobre: Como fizemos para empilhar as pedras? O que deu certo na experiência? O que não deu certo? Como podemos melhorar da próxima vez? Ficará mais fácil aceitarmos a situação e termos à disposição necessária para resgatar nossas pedras e construirmos novas pilhas.

E assim nós seguimos. Empilhando pedras, recolhendo-as, pegando novas pedras, por vezes deixando outras que já não encaixam mais construindo novas pilhas reorganizando o que precisa ser reorganizado buscando uma nova ordem para rearranjá-las. Um novo formato, umas vezes com mais pedras, outras com menos. E, quem sabe aprendemos com esse processo a abrirmos mão de tanto controle e apenas deixarmos que a vida flua conforme sua vontade?
Sim, por vezes, como na natureza, a força vem com tudo e parece que não há solução, não é? Uma grande tromba d´ água desce pelas cachoeiras e destrói tudo contrariando nossas expectativas. Mas, nesse momento lembre que nós não somos nossas pilhas de pedras. Nós somos o rio por onde a água passa e onde as pedras vivem. Portanto, por mais que aquela pilha de pedras tenha sido destruída, existem várias outras lá para que possamos reconstruir nossas pilhas. As pilhas de pedras são as experiências da nossa vida, os caminhos que escolhemos para trilhar e construir nossa história vida, mas não é o todo. É apenas uma parte de um todo imensamente maior. Lembrar disso nos ajuda a valorizar as pilhas que conseguimos empilhar lindamente e a aceitar melhor as pilhas que desmoronam ao longo da nossa estrada.

Que a gente tenha sabedoria na escolha das nossas pedras, abertura às diversas experiências que vamos viver ao longo do processo, criatividade, curiosidade e perspectiva para olharmos sempre para novas formas de empilhar e coragem e determinação na persistência na criação da nossa vida significativa.
Que a gente siga empilhando nossas pedras na construção da nossa vida valorosa!
Segue foto da minha Apacheta fruto de uma experiência muito positiva de Flow e, também um altar sagrado para Pachamama como forma de agradecimento por tudo que vivi até aqui e um pedido de proteção aos nossos caminhos que trilharei.

Fica meu convite para que você construa a sua Apacheta.
Forte abraço carinhoso, Renata Vetere.

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