20 de março, é o Dia Internacional da Felicidade. Você sabia disso?
Não podíamos deixar de falar sobre o dia de hoje, afinal, nós do Conecta estudamos e vivemos a Psicologia Positiva que é o movimento científico de estudos sobre a “felicidade”. Não gostamos desse termo, preferimos o termo bem estar – construto mais científico e menos imbuído de preconceitos sociais como por exemplo que a felicidade seria ser feliz o tempo todo. Por isso, aproveitamos para esclarecer um pouco sobre o conceito científico de felicidade.
O Dia Internacional da Felicidade foi estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2012, sendo comemorado mundialmente hoje, dia 20 de março. Ele tem como objetivo fazer com que as pessoas ao redor do mundo percebam a importância da felicidade em suas vidas.
Em 2015, as Nações Unidas lançaram 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável para tornar a vida das pessoas mais feliz. Seus principais objetivos de desenvolvimento são erradicar a pobreza, reduzir a desigualdade e proteger nosso planeta. Portanto, o dia de hoje serve tanto para chamar nossa atenção para nossas ações individuais de construção da nossa felicidade como informar para as pessoas sobre a importância da necessidade de incorporar a felicidade nas políticas públicas promovendo a importância do tema para a humanidade.
Olhem que maravilhoso isso! Pensar na felicidade como um direito humano fundamental e um objetivo para todos, como forma de viver, ser e servir as comunidades e a sociedade, pensar a felicidade como democrática, diversa, orgânica e inclusiva.
O problema surge quando o próprio conceito de um dia dedicado à felicidade é mal utilizado, tornando-se mais um chicote para nos bater e nos cobrar, ou ainda reforçar a ideia que devemos suprimir emoções negativas ou vê-las como ‘ruins’. Isso traz à mente todas aquelas frases clichês como ‘sempre olhe pelo lado positivo’, ‘não fique assim, agradeça pelo o que você tem” etc. Tudo isso parece ser mais sobre um desconforto social com uma pessoa que “não está bem”. Como se fosse possível alguém ficar “bem” o tempo todo. Quando uma pessoa quer consertar você instantaneamente e fazer você rir se estiver se sentindo para baixo, isso tem seu lado gentil e compassivo, mas também pode revelar nosso desconforto com a dor e a infelicidade de outras pessoas.
Para alguém com depressão, por exemplo, saber que é o Dia Internacional da Felicidade pode ser recebido como mais um motivo para nos criticarmos por nos “faltar” a força de caráter necessária para “ser feliz”. Pode parecer que há uma pressão enorme para ser feliz e isso pode fazer com que as pessoas se sintam inadequadas e se isolem ainda mais. Não estamos defendendo desistir e nem tentar! De forma alguma! Sabemos por comprovação científica e por experiência própria que a psicoterapia positiva é muito benéfica em casos como os de depressão e que ferramentas de autocuidado, como sair para caminhar, estar na natureza, meditar, procurar o que é bom em nossas vidas, estender a mão para os outros, focar na gratidão, podem realmente ter um efeito positivo e elevar nosso humor; mas eles não são a resposta completa, nem podem ser “vendidos” por aí como uma fórmula mágica para sermos felizes. A subjetividade humana é bem mais complexa do que isso, e nossa saúde mental tem relação com o meio social em que vivemos!
E é aí que queremos fazer um convite para olharmos de uma forma mais equilibrada… Precisamos reconhecer que todas as nossas emoções e experiências de vida são importantes, ao invés de olharmos para algumas delas como “negativas” e “erradas”, julgando outras como “positivas” e “certas”. Isso nos leva a fugir do que realmente sentimos e a nos cobrar por nos sentirmos felizes o tempo todo. Só que em alguns momentos da nossa vida, não conseguiremos fazer isso – e é aí que mora o perigo! A verdadeira “felicidade” não é isso! Uma vez que somos capazes de reconhecer que todas as nossas experiências são importantes e conseguimos aceitar todas as nossas emoções, podemos voltar nossa atenção para experimentá-las como verdadeiramente são, olhando para nossos recursos e escolhendo como podemos passar por esses momentos desafiadores de uma forma que seja construtiva para nós.
Como o próprio Seligman diz: “… a psicologia positiva não deve ser confundida com auto-ajuda não testada, afirmação sem pés ou religião secular – não importa o quão bom isso possa nos fazer sentir. A psicologia positiva não é uma versão reciclada do poder do pensamento positivo nem uma sequência de O Segredo.”
Quando as redes sociais e a publicidade assumem a batuta de um Dia Internacional da Felicidade, o conceito inicial fica diluído e pode levar à superficialidade, que por sua vez leva a uma positividade tóxica – ideia de “somente boas vibrações”, que devemos sempre manter uma mentalidade positiva não importa o quão terrível esteja a situação. Essa cobrança por sermos felizes o tempo todo. Aff! Embora haja benefícios em ser otimista e se engajar positivamente, a positividade tóxica rejeita emoções difíceis em favor de uma fachada positiva, cobrando uma falsa alegria.
A vida nem sempre é fácil, feliz e positiva – enfrentamos circunstâncias difíceis e emoções dolorosas. Ignorá-los apenas leva a outros problemas de saúde mental, que se não forem tratados, podem levar a possíveis pensamentos ou ações suicidas.
Com tudo isso em mente, convidamos você para comemorar o dia de hoje com uma atitude equilibrada. O Dia Internacional da Felicidade não é sobre fingir ser feliz, mas um momento para refletir sobre o que realmente te faz feliz.
A felicidade é um estado de ser – é o que você sente por dentro. A “fórmula da felicidade” tem alguns componentes. Prazer ou ‘sentir-se bem’ é um deles, mas há também por exemplo engajamento que seria sobre uma ‘boa vida’ envolvendo trabalho, família, amigos e hobbies, e significado que seria sobre ‘contribuir para um propósito maior’. Envolvimento e significado são mais importantes para vivermos uma vida feliz, do que sentirmos prazer – ou vivermos uma felicidade hedônica.
Para descobrirmos o que verdadeiramente nos faz feliz, o que tem significado para nós, em quais atividades nos engajamos, avaliarmos como anda a qualidade das relações que nutrimos com nossos próximos, precisamos entrar em contato com tudo o que sentimos e não somente com emoções rasas de prazer.
A grande questão gira em torno de ser feliz mais do que somente estar feliz, é sobre viver um estado de bem estar verdadeiro e duradouro. Não é essa positividade tóxica que vemos ser disseminada por aí hoje em dia que nos leva a pensar de forma antagônica, entendendo que para sermos felizes não podemos sentir tristeza – por exemplo. Ou entender simplesmente como um estado emocional… É bem mais profundo do que isso.
“Que a felicidade não dependa do tempo, nem da paisagem, nem da sorte, nem do dinheiro. Que ela possa vir com toda simplicidade, de dentro para fora, de cada um para todos. Que as pessoas saibam falar, calar, e acima de tudo ouvir. Que tenham amor ou então sintam falta de não tê-lo. Que tenham ideais e medo de perdê-lo. Que amem ao próximo e respeitem sua dor. Para que tenhamos certeza de que: “Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”.” Nota: A autoria do pensamento é atribuída a Carlos Drummond de Andrade, mas não há fontes que confirmem isso. Ao que tudo indica, apenas a última frase é, de fato, dele.
Por hoje não vamos deixar dicas de felicidade, mas sim, te convidar a realmente mergulhar para dentro de si e se perguntar o que verdadeiramente te faz feliz.
E aí, você sabe o que verdadeiramente te faz feliz? Se não souber, nós podemos te ajudar a descobrir. Vem com a gente!